quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Malabarista

Tinha aquela inútil mania de olhar o passado, pensar, repensar, relembrar, tentar reviver... Por isso, sempre esperando pelo grande número da vida, deitava na cama à noite e um suspiro gemia a insatisfação.
Acho que todo mundo já passou por um momento que o obrigou a abraçar uma dor. É cretino eu sei. Mas se derepente a gente pára, rouba do nosso dia uns segundinhos apenas - a sós com a gente mesmo - podemos ver que o pôr do sol vai muito além do horizonte.

Às vezes, na pressa rotineira do dia a dia, detalhes cruciais passavam despercebidos. Pequenas ações, que poderiam mudar tudo eram ignoradas pela imperativa covardia.
Alguns "sins" entalados na garganta - mais gordos que os sapos que às vezes a gente tem que engolir - sufocavam, uma ânsia em ser o papel principal, deixar meu figurino de figurante de lado... Mal sabia eu que só bastava começar a trocar de roupa.
Porque bem, o palco estava ali o tempo inteiro, entende?

Eu sempre admirei os malabaristas... A forma como eles pareciam embrulhar as dores numas bolinhas pra depois... Bom, brincar com elas.
Então tentei. Pintei a cara com tinta branca, desenhei um sorriso vermelho de bochecha a bochecha, vesti uma fantasia colorida, coloquei um peruca - Black power verde! Totalmente fora dos padrões! - e sai pra rua.
Cai - sem pára-quedas - na vida.
E quando digo vida, me refiro a aquela, a real sabe? Um oceano de ondas tortuosas. Ora beijado pela calmaria, ora se rasgando com as trovoadas.
Eu entendia que navegar era preciso. O que ninguém tinha me contado é que muitas vezes precisamos sair do barco.


Sou abrigada a admitir que nem tenho certeza pra onde vou, não sei pra que lado está a terra firme, mas sei que a cada braçada - por mais distante que eu esteja - me sinto mais perto, mais perto, mais perto.
Sei que é só o início - os três primeiros segundos de uma canção. Mas se hoje minhas mãos ainda estão afogadas, sei que meus pensamentos podem voar.

"Eu até que nem gostava de sair da minha casa; Mas quando eu menos esperava; Parece que criei asa"
Chico Buarque

Anny.

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