segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Conto - Apenas o que tem pra hoje

Dia 327, trecho de uma conversa impensada.
"- Fica comigo, pra sempre?
- Eu prometo, pra sempre. O que você precisar, eu sepre estarei aqui pra você, do seu lado... Não importa o que for, eu te amo.
- Eu também te amo, muito."

Dia 610.
Trecho de uma carta de despedida.
"..nossas conversas (...) que de repente ficaram tão importantes, tão significativas. Parece que a gente sempre fingiu que nada estava acontecendo, nas raras vezes que a gente se falava era sempre como se a gente tivesse se falado ontem, ontem e ontem.

Faz falta."

Trecho de uma conversa, 365 dias depois da carta.
"- ...Não pensa bobagem, eu voltei porque não aguentava mais ficar sem você... Egoísmo puro.
- Eu gosto do seu egoísmo."

223 dias depois da conversa.
Trechos de anotações rabiscadas em uma agenda.

"1198 dias depois - agora -  o que dizer? O que sentir nesse ponto das coisas? Nada muda, nada se resolve, nosso ciclo continua intacto, e nós permanecemos lá dentro.
Eterna motanha russa em nossos corações.
Cansei de lamentar a saudade, a dor, a culpa, esse amor-samguessuga. 
Mas não posso deixar de me levar por esse sentimento de vez em quando.
Quando eu penso que tudo está se resolvendo, bom, é só apenas olhar melhor pra enchergar que tudo ainda está lá.
Imperecível.
Intocado.

(...)

O que sei é que certamente tal durabilidade deveria ser proibida em algum lugar.
Essa gaiola já deveria ter aberto, nós já deveríamos ter voado para longe, o que ainda fazemos aqui? É doloroso olhar para o lado e te ver, tão amarrada quando eu.
Nossas vidas seguem, mas quem disse que isso é sobre seguir a vida?
Viver se torna pequeno, superficial, apenas páginas coloridas para disfarçar o vazio do branco. E quando tentamos seguir uma estrada linear, amor e vida real entrecruzam-se, divergem, convergem, seguem variações incontínuas, impossíveis de serem seguidas.
Duas cordas impossíveis de amarrar uma a outra.

(...)

Como dizem, talvez dois seja melhor do que um, talvez.
E se for? Então passo a acreditar em seu ceticismo, aquela velha opnião, o próprio agouro, de sermos sozinhos para sempre.
Talvez assim seja.
Se ninguem me toca, porque você toca meu coração, serei enternamente fixado em você.

(...)

É fácil levar a vida.
Dia após dia e tudo se resolve, mas a maioria de nós tem um nó no peito, não importa o quanto tentamos esconder - até de nós mesmos.
Eu não vivo sem você...
Mas isso é tudo o que temos pra hoje."



Pode parecer masoquista
ler e reler um texto com essas emoções.
Mas é o que tem pra hoje.
Anny.

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